quarta-feira, 9 de julho de 2014

Até o começo de tudo!

Sempre me dizem que escrever ajuda a exorcizar os fantasmas. Ontem, até me controlei para não sofrer com a derrota brasileira mas a noite me trouxe imagens do desespero de quem não tem mais nada a fazer a não ser ficar de cabeça erguida e aceitar o que não pode ser mais revertido. 

Mas, hoje, me lembrei de um filme visto no último domingo - Até o fim - um monólogo com Robert Redford (aliás, injustiçado no Oscar deste ano). Nesta pequena obra-prima, um homem (não sabemos nem o seu nome) está no meio do Oceano Índico, sozinho, no seu barco, quando um container bate e fura o seu barco, destruindo os seus equipamentos de comunicação. A partir daí, uma série de desventuras acontece até o fim do filme. E, a cada novo desafio, ele tem que se desapegar das coisas que levava e, com resiliência e criatividade, mantém a sua principal essência - lutar pela vida. 

Logo depois de assistí-lo, me veio imagens da alegoria sobre a nossa vida e as crises que enfrentamos. Quantas coisas, nestes momentos, se tornam acessórias ? Por mais que demoremos a entender e aceitar as perdas, elas acabam nos deixando mais livres e mais próximos daquilo que, realmente, nos motiva e nos mantém eretos e vivos - a essência de cada um. 

Mesmo tentando comunicação, o protagonista não é escutado, e a cada momento vai ficando mais sozinho e com menos recursos externos para continuar vivendo. Até que a única coisa que o mantém com chances de sobrevivência precisa virar cinza ! Nos nossos piores momentos, nos sentimos assim, sós e com poucos recursos para lutar. 

Mas, aí, o "impossível" acontece! Aliás, não é o impossível mas aquilo que resgata o necessário para a nossa vida. Aquilo que faz com que recomeçamos a viver com todas as qualidades. É assim que saímos das crises e escrevemos mais capítulos da nossa história. 

E a relação com o jogo de ontem ? Para mim, a derrota (um container e todas as desgraças que acontecem no filme) acabou revelando, no fundo do mar, quase sem ar, que a nossa essência não está em ser uma pátria de chutarias mas na alegria de viver que é única deste povo, que é admirada e desejada por quem nos visita e que nos mantém diferentes e únicos. 

domingo, 11 de maio de 2014

Do envelhecer com juventude

Talvez poderia negar e dizer que não tem nada ver mas esta reflexão, é claro,  tem a ver com os meus 50 anos! Uma data bem legal de ser comemorada mas olhando para os próximos tantos anos com a pergunta : como envelhecer?

São tantos exemplos bons e ruins ao nosso redor. Da amargura de uma expectativa não realizada, de uma paz não alcançada, da angústia de não ter sido aquilo que se esperava de si próprio (ou do que esperava do mundo!) a corpos já com as marcas do tempo e o espírito jovem completamente preservado. Com certeza, lembramos de pessoas que preenchem quaisquer destas "classificações".

Acabei de ter uma semana onde se provou a necessidade da renovação como a fonte de um envelhecer mais saudável em todos os sentidos.

Começando na 2a. feira, no diálogo com jovens talentos que estamos promovendo sobre o tema de Organizações Saudáveis, com o bate-papo com o Dr. Ronaldo Perlatto. Convidamo-lo para falar de Salutogênese, ou sejam, das causas da saúde no ser humano. Apesar da estranheza, pois estamos acostumados a falar da Patogênese, a origem da doença, explorou-se as condições de uma vida mais saudável. Passando pelas coisas mais comuns - o cuidado propriamente dito com a saúde -, para mim chamaram mais atenção dois aspectos : o cultivo do amor pela ação (e não pelo resultado) e a gratidão pelo que recebemos. No primeiro, principalmente na esfera profissional, vivemos uma cultura de resultados a qualquer custo e esquecemos que o amor pelo que se faz é que sustenta o resultado. No campo pessoal, também. Se o artista só se preocupa com o resultado da sua arte, ele adoece e não aproveita o processo da sua realização. Se nos preocupamos em ficar 100% (seja lá em que!), não vivemos o momento presente. E isto tem relação com a gratidão, com o reconhecer os presentes e os pequenos milagres que recebemos todos os dias. A cultura da falta, do "gap", nos faz críticos conosco e amargos com os outros e a vida.

Na 3a. feira, cheguei em casa e voltei a ser criança. Ganhei uma "Caça ao tesouro"  (Valeu, Sílvio!) como aquelas que fazia quando criança, com charadas a serem descobertas e presentes a serem encontrados em algumas das pistas (além de um lindo cartão no final). Fiquei  curioso, maravilhado e emocionado com as palavras e a dedicação no preparo. Algo que foi feito para que eu me lembrasse do quão especial é ser estimulado a pensar e a encontrar as respostas. Quais são os tesouros que estão todos os dias colocados na nossa frente ? Como voltar a se estimular com as reais brincadeiras ?

E agora, volto de Florianópolis, de um encontro com Daniel e Gudrun Burkhard. Amigos, sócios do destino, sábias crianças nos seus 80 e 84 anos, que nos deram uma lição de simplicidade, carinho, alegria e amor ao nos receberem com suas palavras, sorrisos, abraços e novos projetos de pesquisa.
Dois dias reenergizantes, revitalizantes e que geraram mais certeza sobre o chamado. Eles investindo para um legado para outras várias gerações a partir deles e com uma energia digna de quem está começando, sempre começando. Como sou grato a ter estas pessoas ao meu redor, próximas, que são fonte de inspiração para a vida!

É com muita alegria que chego aos 50 anos e com a esperança de ter aprendido, não só nesta semana, mas com muitas outras pessoas, a saber aceitar os limites do físico e navegar nas infinitas amplidões do espírito.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Momentos em Família - Encontros e Reencontros

Não, não, não! Apesar de ser bastante noveleiro, não irei comentar a novela de Maneco (até porque, se tivesse que falar sobre alguma novela,o faria sobre "Meu Pedacinho de Chão", que não é para crianças apesar das aparências! É para quem gosta de criatividade e boas interpretações). 

Há uma semana, venho tendo momentos de resgate com as diversas famílias que formei ao longo da vida. As de sangue, as da faculdade, as das afinidades culturais, as dos objetivos comuns...Que riqueza trazem estes re-encontros e estas comemorações (da expressão "lembrar juntos"- co- memorar).  

O que é uma atmosfera familiar ? Um ambiente de conhecimento, onde nossos sentidos se colocam mais relaxados, mais disponíveis a entrega. O quanto precisamos deste tipo de ambiente para podermos ser quem somos e sermos juntos quem podemos ser ? O tempo passa numa velocidade absurda, as conversas vão mudando de assunto - fala-se de tudo e de todos, rimos, chorado, nos emocionamos com as infinitas possibilidades. E com a lembrança dos bons tempos - da bondade e da beleza, da infância de brincadeiras e de carinho, da comida da avó (tive duas espetaculares, além das minhas tias!). 

Aquela mesa onde tudo acontece, quando queremos que seja feriado no próximo dia para podermos desfrutar mais. Lembro de uma vez que estávamos em Atibaia (perto de Sampa), jogando bingo em família (umas 40 pessoas) e que rezávamos para que o alguma coisa acontecesse no País para que pudéssemos ficar 3 dias mais. Nem importava quem ganharia o Bingo mas o estar juntos. 

Experimentei estas sensações,novamente, nesta última semana. Começando num almoço de domingo com amigos em casa. Uma deliciosa linguiçada, regada a cerveja e jogos das finais dos campeonatos estaduais. Continuei com uma celebração de Páscoas com meus queridos sócios e, a noite, passei no grupo de jovens com os quais estamos conversando sobre organizações saudáveis. Fui na casa de minha tia para mais uma mesa cheia de alegrias. Até rezei em hebraico com fluidez para que a reza acabasse mais rapidamente e pudéssemos conversar sobre as vidas nos seus mais diversos tempos. No dia seguinte, mais um almoço em família, com bastante risos e momentos de lembranças dos queridos que já foram e de planos de viagens,festas e diversão dos que estavam à mesa.Encontros com amigos para bate-papos, jantar com a galera da faculdade e a mescla das duas famílias - a carioca e a bauruense no Rio - para um final de semana, culminando com o almoço de Páscoa com matzá e chocolate, peixe e salada. 

É claro que a comida fez parte de todos estes relatos mas como coadjuvante daquilo que quer se manifestar - a necessidade de pertencermos a um grupo social e de podermos amar e sermos amados com todas as nossas tradições e contradições. Mesmo para alguém que não tenha boas lembranças familiares, o termo "familiar" é importante pelo conjunto de atributos que acessa o melhor em nós. Quem me conhece, sabe que não sou das tradições mais ferrenhas, que não optei pelos caminhos mais fáceis, mas que, quando se trata de encontrar, quero ter prazer nestes momentos. 

E, justamente, escrevo sobre isto nesta época de Páscoa,judaica ou cristã, que nos lembra de liberdade e de renascimento. E o que isso tem a ver com as famílias ? Se saímos do Egito para formar um povo e renascer na terra prometida, na cruz, morremos para renascer, diferentes, luminosos, livres. E os dois fatos acontecem para nos lembrar do EU e do Nós!

Não precisamos nos reencontrar sempre mas precisamos sempre nos reencontrar. Com os outros, com aquilo que fomos, somos e seremos, com nós mesmos. Em todos os momentos!Criar esta atmosfera de "família" em cada encontro alimenta a alma e ao espírito, fazendo-nos mais fortes e saudáveis. Cada vez mais nós mesmos e nós com os outros!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma "máquina" não escreve "Ela"

Será que um dia substituiremos o calor do contato por uma inteligência artificial que nos faz rir, refletir e não nos julga ?


Temporada de prêmios nos EUA e uma série de filmes desembarcam no Brasil. Entre eles, "Ela" de Spike Jonze. Todos os filmes deste roteirista e diretor tem um altíssimo nível de criatividade nos roteiros e uma inventividade na realização que, às vezes, dificulta a própria universalização da obra. 

Neste filme, um sujeito recém-separado (aliás, muito bem interpretado por Joaquim Phoenix) compra um sistema operacional que pensa e dialoga com seu dono (também maravilhosa interpretação de Scarlet Johansson). Ao acompanhar a história, somos tanto inundados pela humor das situações quanto pela tristeza de imaginar o quanto já estamos próximos deste "futuro" descrito pelo filme. 

Falamos com nossos smartphones, tablets, laptops. Preferimos os jogos e as comunicações virtuais à possibilidade do confronto e do julgamento. Se tornou normal ver gente, nos meios de transporte, grudada em seus brinquedos, sem trocarmos um olhar que não seja de estranheza ou que nos sintamos ameaçados. Todo o aparato de segurança, com suas milhares de câmeras, nos coloca com um sorriso rígido (sim,estamos sendo filmados!) e com medo de estar fazendo alguma coisa que não esteja no padrão desejado. 

Mas, o sistema operacional do filme vai além! É sedutora, bem humorada, acompanha os sonhos do seu dono, propõe momentos de aventura e prazer, evolui, ama e  acaba sendo aceita na sociedade. Uau, a companhia perfeita! Não te critica, está à sua disposição 24 horas por dia, se preocupa com seu estado de humor, é culta e aprende rapidamente. 

Mas, no fundo, a solidão ainda continua no coração humano. E aí, não existe outra forma de curá-la que não seja o encontro com o outro. Afinal, para aqueles que, ainda não entraram 100% no automático (se tornaram inteligências artificiais?!), começam a retornar às origens, buscando momentos de contemplação na natureza e encontros com amigos e familiares. Que gostoso se emocionar com os outros, lidar as dificuldades das relações, crescer e evoluir juntos. Dá trabalho mas isso é ser humano!

Um bom filme,para mim, é assim! Que me faz divertir e que me toca nas questões mais essenciais. Onde percebo que, nem a maior inteligência artificial conseguiria escrever e dirigir algo tão humano e criativo. Não garanto que você vá gostar (gosto não se discute!!!) mas acho que vale a pena arriscar.  

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Somos arquitetos da vida social !

Tenho recebido várias perguntas sobre como se pode desenvolver as lideranças para que as mesmas inspirem as pessoas.  Todos estão preocupados com os resultados e atuando de um modo automático que só lembram de outras responsabilidades da liderança nos “incêndios” ou quando percebem que a moral da tropa está baixa.

Que espaço estamos criando nas organizações para que o empreendedorismo e a  genuína vontade de contribuir floresçam ? Como está a sua percepção do contexto organizacional e grupal da sua equipe? Se você só vê cinza, pode estar deprimido neste espaço. Se está tudo azul, será um momento de euforia?

Qual é a real responsabilidade do líder nos dias de hoje?  Perceber o entorno e as suas necessidades, atuando para responder adequadamente a cada uma delas.

O ser humano pode ser a imagem de Deus mas nossa criação se dá na esfera do social. Somos os criadores da sociedade , da vida em grupo e, sendo assim, do espaço organizacional.

O que faz um bom arquiteto ? Cria um espaço de convívio saudável para os indivíduos.  Um espaço que desenvolva e que responda às aspirações, sonhos e vontades. Apesar das limitações de recursos – que sempre existem -, procura-se a criatividade como saída para driblar estas carências. Quem não se maravilha com os espaços descobertos pelos arquitetos, os usos múltiplos de objetos e móveis ?

Agora, vamos olhar para as organizações e a sua liderança! O quanto investimos em escutar os sinais visíveis e invisíveis dos vários “clientes” que temos ? Vamos fazendo as coisas o mais rápido possível e procurando ganhar o mais possível.

Goethe em 1825, já dizia que “Riqueza e velocidade são os objetos de desejo da sociedade. Quando só nos  educamos para isso, nos tornamos medíocres”. Há quase duzentos anos, os sinais de uma sociedade que só valoriza riqueza e velocidade já eram percebidos.

Poucos deram passos para ampliar esta visão e atuaram para elevar-se a ela. Os que fizeram tornaram-se lideres inspiradores.  Um dos caminhos para esta elevação está no autodesenvolvimento que contemple perguntas genuínas, experiências verdadeiras, a confiança em si, nos outros, no futuro e no mundo além do material, o mundo espiritual.

A integração destas correntes permite com que a liderança trabalhe com imagens, inspire com as palavras e aja com intuição e em conexão com o que o mundo lhe pede.

Não é fácil mas recompensador! Os resultados vem a medida que a coragem nos empurra a sair da zona de conforto e do papel de vítima e nos leva à tensão que gera o frio na barriga. Frio do “sim” que dizemos ao casar – sair do presente com todas as suas respostas sabidas em direção a um futuro com perguntas desafiadoras.


Estar e manter-se vivo é estar no limiar da nossa zona de conforto! Convido-os a viver, a serem líderes de si e criarem esta nova sociedade no nível que você assim almejar!