sábado, 31 de março de 2012

Águas de março

Ficar quase um mês sem escrever não tem desculpas! Por isso, faço uma retrospectiva de bons momentos vividos neste março de 2012.

Começo pela homenagem ao meu pai, falecido há 18 anos. Todo ano fazemos o ritual de ir a sinagoga no sábado e ao cemitério no domingo. Durante a reza, o rabino comentou sobre motivação, contando uma história interessante.

Numa escola de rabinos, o aluno preferido do rabino-mestre teve que ir para a guerra, o que deixou o mestre muito apreensivo. Depois de meses sem notícias, ele achou que algo sério tinha acontecido com o aluno. Um dia, quando estava em seu escritório com o assistente, entra um outro aluno e diz: "Mestre, tenho uma ótima notícia! Seu aluno preferido está bem e voltará à nossa escola". O mestre, aliviado, disse: "Que ótima notícia! Você alegrou a minha vida". No dia seguinte, um outro aluno entra e diz :"Mestre, tenho uma ótima notícia! Seu aluno preferido está bem e voltará à nossa escola". Ao que o mestre responde: "Que ótima notícia! Você alegrou o meu dia e a minha vida". No terceiro dia, um outro aluno entra e diz :"Mestre, tenho uma ótima notícia! Seu aluno preferido está bem e voltará à nossa escola". O mestre, mais uma vez, responde: "Que ótima notícia! Você alegrou o meu dia e a minha vida".
Após este aluno sair, o assistente que ouviu a mesma história 3 vezes, perguntou ao mestre: " Mestre, queria entender porque o senhor se emociona a cada vez?". O rabino diz:"Realmente, na primeira vez, fiquei muito emocionado com a notícia. Quando os outros alunos vieram me contar, com seu coração alegre em me alegrar, pensei :"como posso responder a eles com a mesma alegria com a qual eles chegaram aqui? não tenho o direito de esfriar o coração de quem quer me alegrar!". Ao ouvir esta história, me percebi esfriando vários corações com a resposta de "já sei!" Aposto que todos passamos por este balde de água fria...

No domingo, com a minha irmã, vivi um momento emocionante em frente ao túmulo do meu pai quando choramos a saudade que temos dele mas,principalmente, os valores positivos e bem humorados que vivemos com ele. O choro não foi de tristeza mas de lembrança. Como queremos ser lembrados ? Pelos gritos que demos ou pelos sorrisos e gentilezas que distribuímos ?

Vários outros momentos poderiam ser contados :
- a alegria de ver as turmas do Germinar (programa de formação de lideranças para o 3o setor) recomeçando pelo Brasil afora
- as manhãs, tardes e noites vendo as finais da Superliga de Vôlei
- assistir a estréia da nova novela das nove e as cenas tristes mas líricas no lixão
- as conversas com meus amigos sobre vida e trabalho

Enfim, foram as águas de março fechando o verão, promessa de vida no coração.

sábado, 10 de março de 2012

Da culpa do tempo livre

Desde que saí da outra consultoria na qual trabalhava (14 anos atrás) , me coloquei uma meta que toda sexta-feira à tarde, seria dedicada a encontrar amigos e ter tempo livre. Consegui esta proeza por dois meses mas, uma vez em frente ao espelho numa destas sextas-feiras, me peguei falando : "Como você é vagabundo! Todos trabalhando e você indo almoçar com amigos".
Não demorou  muito e já tinha abandonado a decisão. Antes, porém, conversei com minha terapeuta sobre a felicidade do momento e a angústia por sobrar tempo.Ela me respondeu, com sabedoria : "Que bom você ter tempo para ficar com você mesmo". Uau! Isso era assustador!
Achei que já havia superado esta culpa pois acabei criando espaços na agenda para curtir o que gosto e até ficar sozinho. Mas não é que,no sábado passado, após terminar um trabalho de 2 horas num hotel maravilhoso na Praia do Forte, fiquei em um longo processo anímico (cronologicamente foi rápido,uns 15 min) para decidir se eu tinha direito a ir a praia e beber uma caipirinha,enquanto o grupo continuava a trabalhar. Acabei,colocando a sunga e tomando um pouco de sol e percebi que, sempre, a única censura é nossa.
Como é ir  ao cinema no meio da tarde num dia útil ? Ter um almoço muito demorado ? Ler um livro na praia numa manhã "normal"? Mesmo de férias, às vezes, nos repetimos na nossa rotina, nos entupindo de atividades e voltamos mais cansados.
A promessa de uma tecnologia que daria mais lazer não vingou e a única coisa que nos libera é a firme consciência de que precisamos de um tempo para nós mesmos, para nos reconectarmos com a nossa essência,com o melhor de nós. No tempo e espaço que for necessário. Sem culpa!