Não, não, não! Apesar de ser bastante noveleiro, não irei comentar a novela de Maneco (até porque, se tivesse que falar sobre alguma novela,o faria sobre "Meu Pedacinho de Chão", que não é para crianças apesar das aparências! É para quem gosta de criatividade e boas interpretações).
Há uma semana, venho tendo momentos de resgate com as diversas famílias que formei ao longo da vida. As de sangue, as da faculdade, as das afinidades culturais, as dos objetivos comuns...Que riqueza trazem estes re-encontros e estas comemorações (da expressão "lembrar juntos"- co- memorar).
O que é uma atmosfera familiar ? Um ambiente de conhecimento, onde nossos sentidos se colocam mais relaxados, mais disponíveis a entrega. O quanto precisamos deste tipo de ambiente para podermos ser quem somos e sermos juntos quem podemos ser ? O tempo passa numa velocidade absurda, as conversas vão mudando de assunto - fala-se de tudo e de todos, rimos, chorado, nos emocionamos com as infinitas possibilidades. E com a lembrança dos bons tempos - da bondade e da beleza, da infância de brincadeiras e de carinho, da comida da avó (tive duas espetaculares, além das minhas tias!).
Aquela mesa onde tudo acontece, quando queremos que seja feriado no próximo dia para podermos desfrutar mais. Lembro de uma vez que estávamos em Atibaia (perto de Sampa), jogando bingo em família (umas 40 pessoas) e que rezávamos para que o alguma coisa acontecesse no País para que pudéssemos ficar 3 dias mais. Nem importava quem ganharia o Bingo mas o estar juntos.
Experimentei estas sensações,novamente, nesta última semana. Começando num almoço de domingo com amigos em casa. Uma deliciosa linguiçada, regada a cerveja e jogos das finais dos campeonatos estaduais. Continuei com uma celebração de Páscoas com meus queridos sócios e, a noite, passei no grupo de jovens com os quais estamos conversando sobre organizações saudáveis. Fui na casa de minha tia para mais uma mesa cheia de alegrias. Até rezei em hebraico com fluidez para que a reza acabasse mais rapidamente e pudéssemos conversar sobre as vidas nos seus mais diversos tempos. No dia seguinte, mais um almoço em família, com bastante risos e momentos de lembranças dos queridos que já foram e de planos de viagens,festas e diversão dos que estavam à mesa.Encontros com amigos para bate-papos, jantar com a galera da faculdade e a mescla das duas famílias - a carioca e a bauruense no Rio - para um final de semana, culminando com o almoço de Páscoa com matzá e chocolate, peixe e salada.
É claro que a comida fez parte de todos estes relatos mas como coadjuvante daquilo que quer se manifestar - a necessidade de pertencermos a um grupo social e de podermos amar e sermos amados com todas as nossas tradições e contradições. Mesmo para alguém que não tenha boas lembranças familiares, o termo "familiar" é importante pelo conjunto de atributos que acessa o melhor em nós. Quem me conhece, sabe que não sou das tradições mais ferrenhas, que não optei pelos caminhos mais fáceis, mas que, quando se trata de encontrar, quero ter prazer nestes momentos.
E, justamente, escrevo sobre isto nesta época de Páscoa,judaica ou cristã, que nos lembra de liberdade e de renascimento. E o que isso tem a ver com as famílias ? Se saímos do Egito para formar um povo e renascer na terra prometida, na cruz, morremos para renascer, diferentes, luminosos, livres. E os dois fatos acontecem para nos lembrar do EU e do Nós!
Não precisamos nos reencontrar sempre mas precisamos sempre nos reencontrar. Com os outros, com aquilo que fomos, somos e seremos, com nós mesmos. Em todos os momentos!Criar esta atmosfera de "família" em cada encontro alimenta a alma e ao espírito, fazendo-nos mais fortes e saudáveis. Cada vez mais nós mesmos e nós com os outros!